Mesmo inicialmente desenvolvida com base num Fazer, documentado e difundido por meio de manuais na Europa do final do século XIX, a Arquivologia não se restringe a uma área eminentemente prática e requer princípios que orientem os procedimentos deste Fazer e o fundamentem em termos teóricos. Por tratar-se de uma área de Saber “nova” e, por assim dizer, ainda em processo de elaboração e desenvolvimento, necessita permanentemente revisitar seus pressupostos e estabelecer seu estatuto de ciência. Neste trabalho pretende-se apresentar reflexões em torno do Objeto científico da Arquivologia, com vistas à proposição de que há diferentes definições no âmbito de sua comunidade científica, ou ainda, de seu campo científico, além de investigar a configuração e consequências destas diferenças no campo científico brasileiro. Para fundamentar a pesquisa realizou-se revisão de literatura sobre o Objeto científico na bibliografia da área, discutindo e contextualizando seu delineamento frente à construção histórico-epistemológica da Arquivologia. Considerou-se necessária pesquisa empírica visando identificar as acepções do Objeto no campo científico brasileiro através de entrevistas junto a pesquisadores da área.

A criação da Associação dos Arquivistas Brasileiros em 1971, a implantação de cursos de Arquivologia desde 1977 e o marco legal da profissão de arquivista em 1978 expressam uma institucionalização do campo arquivístico no Brasil. Esta tese tem o objetivo de problematizar o processo de institucionalização da arquivologia e do arquivista no Brasil, com base no discurso do movimento associativo em prol dos arquivos, materializado na revista da Associação dos Arquivistas Brasileiros. Os recursos teórico-metodológicos são da memória social, da análise do discurso vertente francesa e da Arquivologia. A pesquisa contribui na compreensão do campo arquivístico como espaço institucionalizado de profissão e de disciplina. Para além de discutir se a institucionalização do campo foi uma realização da sociedade civil organizada – movimento associativo – ou do Estado, a partir do discurso, compreende-se como pessoas compartilham um tema – os arquivos – e se organizam como associação numa relação de demanda por serem instituídos pelo e dentro do Estado.