O conceito/noção de memória norteia diversas práticas de constituição do patrimônio documental por parte dos arquivos públicos. Este processo é configurado na arquivologia pelo conjunto de técnicas identificadas como avaliação e seleção de documentos. Tais técnicas, porém, tendem a não referir-se, de forma verticalizada, aos pressupostos e implicações teóricas do conceito/noção de memória. No Brasil, este processo adquire matizes específicos, considerando-se a periferização dos arquivos públicos em relação ao Estado e à sociedade.

Esse estudo objetivou elaborar recomendações para harmonização entre formação, profissão e trabalho no campo arquivístico brasileiro, com base na análise das relações entre currículo, legislação e concursos públicos. Para isso analisaram-se as disciplinas curriculares da Escola de Arquivologia da Unirio, as atribuições profissionais do arquivista segundo a lei 6.546/1978 e as competências e habilidades do arquivista descritas em editais de concursos públicos entre 2018 e 2019, do Poder Executivo Federal, regidos pela lei 8.112/1990. Realizou-se pesquisa bibliográfica em áreas diversas como Teorias Curriculares, Direito Administrativo e História da Arquivologia. Também se efetuou pesquisa documental sobre o curso de Arquivologia da Unirio, a lei sobre regulamentação profissional e os concursos públicos para arquivistas. Analisaram-se as disciplinas curriculares quanto aos conteúdos e quanto aos objetos, as atribuições legais do arquivista quanto aos seus objetos e quanto à natureza de suas ações e áreas relacionadas e as competências e habilidades do arquivista descritas em editais quanto à natureza de suas ações e áreas relacionadas e quanto aos seus conteúdos. A partir da análise de dados compreenderam-se as relações de abrangência entre atribuições legais do arquivista, competências e habilidades do arquivista descritas em editais de concursos públicos e disciplinas curriculares da Escola de Arquivologia da Unirio. Também se identificou a ênfase dada em cada um desses três elementos. A análise das relações entre disciplinas curriculares, atribuições legais, competências e habilidades do arquivista em editais de concursos públicos contribuiu para a elaboração de nove recomendações para harmonização entre formação, profissão e trabalho no campo arquivístico brasileiro: 1 — A estrutura curricular dos cursos de Arquivologia precisa refletir os contextos regionais e institucionais conforme os parâmetros de flexibilização da Lei de Diretrizes e Bases; 2 — O currículo dos cursos de Arquivologia deve articular referências disciplinares da área, atribuições legais da profissão e demandas do mundo do trabalho; 3 — O projeto pedagógico do curso deve expressar a construção de um currículo que abranja as dimensões de interdisciplinaridade da Arquivologia; 4 — O conjunto dos componentes curriculares do curso deve cobrir com equilíbrio todas as atribuições legais da profissão do arquivista; 5 — A construção do currículo, a descrição no projeto pedagógico e o quadro de disciplinas curriculares devem considerar o âmbito gerencial do arquivista; 6 — O domínio científico do arquivista deve ser aprofundado pelas disciplinas curriculares de Arquivologia; 7 — A dimensão educacional entre Arquivologia e Educação deve ser fortalecida na estrutura curricular dos cursos de Arquivologia; 8 — A estrutura curricular dos cursos de Arquivologia deve ampliar e atualizar permanentemente os conteúdos sobre o universo digital e as atribuições do arquivista nesse contexto; 9 — O processo de formação do arquivista deve enfatizar a história da Arquivologia no Brasil.

Esta primeira introdução, escrita para fins didáticos, pretende ser um texto básico conciso em que os conceitos centrais da arquivística são definidos e explicados de forma coerente, de forma não polêmica e partindo de um ponto de vista desinstitucionalizado. Não se destina a apoiar ou rejeitar uma única teoria, mas a fornecer uma visão geral. Deve ser lido como uma síntese de uma variedade de ideias e pontos de vista compartilhados, não como um manifesto de uma nova abordagem da arquivística. Se houver algo de novo, pode estar localizado na apresentação coerente e integrada. Nesta cartilha da ciência arquivística, a anotação foi evitada.

O estudo trata da difusão em arquivos, abordando a característica de difusão como um ponto de ligação interdisciplinar entre os estudos de informação. Apresenta o conceito de difusão, sua aplicabilidade e a perspectiva no paradigma custodial, patrimonialista, historicista e tecnicista e no paradigma pós-custodial, informacional e científico. Tendo em conta como objeto de estudo a informação orgânica no contexto dos arquivos, lançamos a seguinte problemática: como pode ser ampliada à difusão da informação orgânica contida nos arquivos, levando em consideração as transformações na sociedade da informação e, consequentemente, do profissional da informação? Tem como objetivo contribuir para o estudo da difusão da informação orgânica contida nos arquivos a partir de uma abordagem interdisciplinar. A metodologia baseou-se em revisão bibliográfica na temática de difusão e sua relação com diversas disciplinas, principalmente com a Arquivologia e a Ciência da Informação. Conclui com um conjunto de estratégias que abrange a acessibilidade, transparência, marketing aplicado a unidades de informação, mediação, literacia informacional, estudo de usuários e comportamento informacional.

A criação da Associação dos Arquivistas Brasileiros em 1971, a implantação de cursos de Arquivologia desde 1977 e o marco legal da profissão de arquivista em 1978 expressam uma institucionalização do campo arquivístico no Brasil. Esta tese tem o objetivo de problematizar o processo de institucionalização da arquivologia e do arquivista no Brasil, com base no discurso do movimento associativo em prol dos arquivos, materializado na revista da Associação dos Arquivistas Brasileiros. Os recursos teórico-metodológicos são da memória social, da análise do discurso vertente francesa e da Arquivologia. A pesquisa contribui na compreensão do campo arquivístico como espaço institucionalizado de profissão e de disciplina. Para além de discutir se a institucionalização do campo foi uma realização da sociedade civil organizada – movimento associativo – ou do Estado, a partir do discurso, compreende-se como pessoas compartilham um tema – os arquivos – e se organizam como associação numa relação de demanda por serem instituídos pelo e dentro do Estado.

Apresenta-se uma revisão de literatura sobre a trajetória da Arquivologia destacando o reconhecimento de três visões sobre os arquivos (histórica gerencial e informacional). Considera-se que há uma visão histórica dos arquivos que se estabelece com o modelo de instituição arquivística típica do século XIX, que privilegia a dimensão patrimonial de acervos custodiados, para servirem à produção historiográfica. O quadro histórico da primeira metade do século XX é o elemento de fundo para a identificação do surgimento de uma visão gerencial dos arquivos. A demanda de eficiência estatal, frente aos problemas da “explosão documental” por parte dos países desenvolvidos, no período chamado entre – guerras, e o ambiente de difusão das idéias de administração científica, delineariam o surgimento do conceito e das práticas de gestão de documentos. O outro enfoque é a visão informacional dos arquivos. O discurso da importância da informação como recurso estratégico do ponto de vista do desenvolvimento e da orientação de sucesso das organizações, se faz presente, por exemplo, nas aplicações dos sistemas de recuperação de informação aos arquivos. Uma necessidade de atualização das práticas arquivísticas relacionada aos discursos, difundidos no final do século XX, que concedem a informação uma condição de elemento fundamental na constituição da realidade. Observa-se o surgimento de movimentos de normalização das práticas arquivísticas na direção de sua aproximação de iniciativas internacionais para a interoperabilidade dos sistemas informacionais.

Os brasileiros que frequentaram cursos nos Estados Unidos e estagiaram nos Arquivos Nacionais de Washington conheceram o prof. Ernst Posner, antigo membro dos Arquivos da Prússia e, desde 1939, professor da American University, de Washington, na qual se oferecem cursos para arquivistas. Todos dele se recordam com a melhor impressão e não esquecem suas lições e sua figura, misto de erudito germânico, de humanista europeu e de arquivista profissional. Creio que poucos ensaios especializados terão tanta força de generalização, tanto espírito de crítica e concentração, como este trabalho, que oferece uma valiosa síntese da evolução e dos problemas dos arquivos desde a Revolução Francesa até 1940.